cinismo

eu sei.

conheço esse cinismo, típico dos covardes

também já sei o que escondes, o que finges, o que tens medo

eu sei porque foges

eu sei o que provoco em ti e do quanto isso te assusta

você sempre tenta disfarçar, mas eu conheço fujões pelo cheiro…

eu os abomino com meu mais alto asco

mas como se trata de você, meu caro,

nutro somente piedade

tenho piedade da tua fraqueza

tenho compaixão da tua falta de intensidade

você se acha tão ponderado, tão correto, tão equilibrado

mas essas são qualidades que apenas mascaram tua fraqueza diante da vida

cada vez mais te vejo se aninhando em covardia, e só posso lamentar

lamentar porque reconheço quando nos tornamos covardes por conveniência

afinal, é mais fácil, não é?

é mais cômodo calar, fingir que está tudo bem

sorrir sorrisos sem sentido, aparentar estar despreocupado

talvez sejas chamado de sábio

mas até nisso discordo

sábios sabem com precisão a hora de romper o silêncio

de propor a pergunta no oportuno momento

sábios não fogem

e você está pior que vaselina

alimentando um medo que não faz nenhum sentido

saiba, caro amigo, que prefiro não entrar nesse jogo

e compactuar com teu cinismo.

recuso-me a me portar feito babaca

eu estou aqui

com toda minha intensidade

arriscando

colhendo flores e maus cheiros

mas com o peito aberto

de corpo inteiro